terça-feira, 4 de outubro de 2022

Solidão materna

Eu e meu parceiro somos muito próximos e muito íntimos. Ainda bem. Às vezes, sinto que só tenho a ele.e sinto distante de todas as minhas amigas antigas... Mesmo as que são mães. Minto. Há um lugar de conversa com outras mães que me acolhe. Mas ele não é simples de acessar. Nós duas precisamos estar com uma certa disponibilidade emocional, abertas à vulnerabilidade e, entre privação de sono, fraldas e o resto da vida que não envolve filhos, isso não é tão frequente. Mas quando ocorre, a gente se vê de verdade. Pelo menos é assim que eu me sinto.
As demais, eu as amo e sei que me amam também. Mas já não nos vemos com a mesma frequência - acho que isso vem com a idade. Mas eu já não consigo me esforçar na mesma medida para vê-las. Aliás, geralmente dependo do esforço alheio para estar em determinados espaços e momentos: a rede de apoio para ficar com os pequenos, a disponibilidade para virem até em casa ou próximo, pois preciso voltar logo e liberar a cuidadora da rodadaa disposição de quem me acompanha para me ajudar com meus filhos.
Outra coisa que magoa: às vezes, os convites nem chegam. Eu sei que de 10 convites, eu nego 97%. E às vezes até o que eu confirmo acabo cancelando em cima da hora. Mas aquele um rolê que eu conseguir me organizar e ir vai me fazer tão bem! Eu vou curtir tanto! Que eu juro que eu vou fazer valer a pena os diversos não's que te disse!
Como tudo, tenho trabalhado esse tema em terapia e percebi que: 1. Preciso verbalizar esses incômodos para quem eu realmente amo (o posto também vai com essa finalidade de falar sobre isso); e 2. Por mais que seja difícil, se isso é uma prioridade para mim, preciso encontrar formas de fazer esses encontros acontecerem.
Seguimos tentando...

terça-feira, 26 de julho de 2022

Descoberta

Morávamos juntos há um mês, viajaria no dia seguinte com duas amigas e a menstruação atrasou. Ela que nunca se atrasava. Contei para meu companheiro e passamos para comprar um teste. 
Antes das crianças, a gente tinha o hábito de tomar banho juntos, então, enquanto não dava o tempo do teste, entramos no chuveiro.
Conversando, percebo sua voz levemente embargada, olhos vermelhos. Ele se emocionou com a possibilidade de ser pai.
O banho acabou e a disputa de quem olharia o teste começou. Um empurrava para o outro. Até que ele vence, ao dizer que o xixi era meu. Pego o teste e suspeita confirmada: grávida.
No dia seguinte, enjoei na serra muito mais do que o normal e só agora liguei uma coisa a outra

quarta-feira, 13 de julho de 2022

Colo

 Lembro de pensar durante a gestação que não daria conta de dois.

Lembro de, depois do primeiro período de dificuldade, me encontrar na amamentação. Apesar de cansativo, era minha forma de acolher, acalmar e adormecer os dois bebês ao mesmo tempo.

Lembro de, uma vez que parei de amamentar, buscar novas formas de acolher os pequenos.

Lembro de finalmente encontrar um jeito de encaixar um ou outro no colo, acarinhar as costas, olhar nos olhos e chegar àquele mesmo lugar de troca que a amamentação trazia. O cantar também se configurou como uma forma de fazê-los dormir. Cantávamos juntos, eu e meu companheiro, e isso também nos acalmava e conectava, depois de dias estressantes.

E, de repente, meus filhos já não são bebês; quase não cabem mais no meu colo; ignoram meu canto e pulam na cama ao invés de dormir e o caos volta a reinar nas noites em que eu os coloco para dormir - esta voltou a ser uma tarefa de um adulto só recentemente.

Tive que encontrar (DE NOVO!) uma nova forma de colocá-los para dormir e inventei um personagem. Passo alguns minutos contando sua história sem fim e a retomo na próxima noite. Mas, no meio da noite, quando uma das vozes mais deliciosas do mundo me chama sem chorar, não há história. Não há peito. Não há cantoria. Aquele ser de ternura e sono se encaixa mais ou menos junto ao meu tronco, com a cabeça apoiada em meu ombro e meu coração se aquece. Além da dor nas costas e da vontade de voltar a dormir em minha cama, me sinto invadida por amor e lanço meu olhar mais apaixonado para aquele corpinho que só consegue voltar a relaxar em contato com o meu.

segunda-feira, 4 de julho de 2022

... que muda de novo

 Cá estamos nós novamente. Eu, em outro estágio da minha vida; com dois filhos; para todos os efeitos, casada; em busca de uma maneira de colocar para fora tudo que tenho vivido e sentido. E meu fiel blog aguardando meu retorno; guardando e celebrando minhas memórias e a Simone que já fui. A libélula esvoaçou por minha mente, graças à um sopro da minha irmã!

Então daqui para frente, volto sempre que possível, para contar, com pinceladas de humor e baldes de afeto, um pouco da minha vivência como mãe. Vou sempre misturar coisas que estão sendo vividas no presente com o que já passou nos últimos dois anos.

quarta-feira, 29 de junho de 2022

... que criou ninho

Pensei em reativar o blog e escrever sobre o desafio atual, a maternidade, e me deparei com este post pronto, que não cheguei a publicar. O escrevi no dia 10/09/2019, quando estávamos morando juntos há mais ou menos um mês. Detalhe importante: quando escrevi, já estava grávida, mas só descobriríamos em um mês. 

Faz pouco mais de um mês que saí (pela terceira vez) da casa de minha mãe. Nas outras duas vezes, fui, com data para voltar, para outro país. Sempre com uma finalidade e data de retorno bem definidas. Nestas ocasiões, a sensação de descobrir o novo me foi bem fascinante. A beleza da mudança sempre me atraiu muito.
A mudança de agora, no entanto, tinha um sabor diferente. De escolha a longo prazo, de planejamento mais cuidadoso, de uma escolha para a vida, não para os próximos meses. Não estar indo só também deu nova cor à mudança. "Casei". Estou dividindo a casa e a vida com meu companheiro e tudo tem sido bem curioso.
Chegar em um nível de cumplicidade e conforto um com o outro que eu jamais experimentei; tomar decisões juntos pela casa; compartilhar as tarefas domésticas mais chatas e os dias que foram ruins fora de casa; compartilhar o bom também, as pequenas alegrias do dia-a-dia e cozinharmos uma refeição juntos; descobrir os limites um do outro (ele adora ouvir música no último volume e eu só quero silêncio depois de horas na escola) e aprender a respeitá-los; negociar certas coisas que você faz questão e chegar ao volume ideal e à escolha compartilhada da trilha sonora; trocar as coisas que são importantes para cada um de nós e fazer concessões: eu enchi a casa de planta e ele não come carne em casa, ele faz feira para nós e eu desencanei d'ele ficar jogando joguinhos todos os dias.
Estamos, como tudo, longe da perfeição, mas todos os dias encontramos pontos de tensões e conscientemente escolhemos tentar encontrar maneiras de soltá-las.

E hoje seguimos assim: Escolhendo estar juntos, encontrando prioridades, negociando soluções e construindo caminhos. Mas agora com mais dois seres cheios de quereres e vontades que ocupam nosso tempo e coração

segunda-feira, 1 de julho de 2019

... que nunca foi gorda

Eu nunca fui gorda.
Aliás, quando criança, eu era bem magrelinha até. Depois eu fiquei mais rechonchuda e, de maneira geral, meu peso variou bastante a partir dos meus onze anos mais ou menos, mas eu nunca fui gorda.
Além de nunca ter sido gorda, também nunca me senti gorda. Sabe-se lá de onde, eu tinha a auto confiança para não ficar me diminuindo por conta do meu corpo.
Mas também nunca me achei magra. Inclusive porque o ser humano vive com base em comparações e binarismos e, quando me comparavam com minha irmã, coisa mais comum, porém irritante da minha infância, eu sempre era a não-magra. Mesmo que aquele fosse um dos meus momentos de magreza.
Sempre me entendi como "nem gorda, nem magra", aquele corpo que não sofre gordofobia, mas também não se compara ao das modelos das revistas. E mesmo quando estava mais magrinha, o fato de ter seios grandes até disfarçava às vezes o fato de que estava tão magra.
Olhando fotos do passado, eu vejo que houve momentos em que eu estava, sim, magra e outros em que estive, sim, gorda. Muito estranho perceber isso só olhando em retrospecto. O ideal seria postar algumas dessas fotos aqui, mas a preguiça das férias impera.
Mas aí comecei a pensar onde me encaixo hoje e hoje, eu sou magra. Demorou para me entender assim. 

Desde que virei vegetariana, minha relação com meu corpo mudou bastante. Meu metabolismo está mais rápido, meu intestino funciona melhor, eu vivo com mais disposição e comecei a me alimentar cada vez melhor. E tudo isso também gerou mudanças no meu corpo. Estes foram efeitos que eu jamais esperava quando eu deixei de comer carne, há exatos dois anos.
Com essa nova disposição, senti necessidade de retomar atividades físicas, há um ano e meio. Isso acelerou as mudanças físicas. No início desse ano, comecei a treinar rugby e, apesar de estar comendo mais, percebi a quantidade de massa gorda em mim reduzir bastante.
E eu finalmente me entender como magra no momento presente. Tive que ouvir isso de muitas pessoas, até entrar na minha mente. Tive que me observar bem de perto, notar as calças todas largas, perceber que até as blusas estavam com um caimento diferente.
"E daí?", vc deve estar se perguntando.
Pois é. E daí? Às vezes comentam que estou mais magra e me incomoda que as pessoas esperam que eu entenda isso como um elogio. Por acaso, meu processo de emagrecimento foi bastante saudável e a mudança estética nunca foi meu fim. Mas não é o caso de todas. Muitas mulheres emagrecem por estarem passando por processos bastante difíceis e dolorosos, sejam estes físicos, mentais ou emocionais. Comentar da magreza de alguém jamais deveria ser considerado um elogio imediato. Até por ser uma óbvia discriminação às pessoas gordas. Se você associa magreza a algo positivo, você está associando ser gordo com aspectos negativos.

E nesse meio, me peguei pela primeira vez esteticamente preocupada com meu corpo. No último mês, deixei de treinar rugby, pois as obrigações da vida cobraram esse tempo extra. Semana retrasada não treinei com minha personal porque tive outros compromissos nos horários de treino. E de repente me peguei olhando para aquela dobrinha extra que apareceu na barriga, medindo a gordurinha entre os dedos, percebendo que a calça que facilmente caía da minha cintura já não caía mais. E muito preocupada com esses fatores todos.
Eu, que nunca fui gorda nem tampouco magra, caí, sem querer na ditadura da magreza.
Não superei as inseguranças que surgiram. Nada é tão fácil assim, mas queria fazer alguns pedidos:
  • Não supervalorizem a magreza feminina. Nós não sabemos o processo que levou a isso.
  • Não façam comentários negativos sobre o corpo de uma mulher. Ela provavelmente já pensou nisso. Nós somos programadas a nos medir a todo o momento. Não colabore com as nossas nóias que já são muitas...

domingo, 30 de junho de 2019

... que acampou

No início do ano, fomos acampar com as crianças. Adoro esse momento, já que eu consigo conhecer melhor minha turma, em um contexto mais livre que a escola e a própria turma fica mais próxima depois de passar duas noites longe de casa e dos pais.

Acampar com os alunos é sempre uma aventura. Mas, esse ano, a primeira noite com as crianças é um desafio a parte. Estava no quarto com 8 meninos de mais ou menos 8 anos. Vou trocar seus nomes pelos números de 1 a 8, para facilitar a compreensão. 
5 trouxe três livros e pediu para que eu lesse para todos na hora de dormir. Todos concordaram então eu li. Ao final do livro, 1, 2, 3 e 4 tinham caído no sono. 
5 me questionou sobre uma luz que piscava no teto e sobre o barulho do ventilador. Ele parecia relutante em deixar o sono chegar. Durante essa conversa, um barulho não muito alto e o comentário de 6: "7 caiu no chão".
7 tem o sono agitado. Tinha se mexido muito e caído no chão sem nem ao menos despertar. O coloquei de volta na cama e voltei a conversar com 5.

Logo em seguida outro barulho e 7 diz: "Si, 6 caiu no chão". Achei até que estivessem brincando comigo. Se revezando para fingir cair da cama. Mas não. 7 realmente tinha caído da cama. O coloquei de volta na cama e retomei a conversa.
5 então confessa que sua mãe costuma lhe cantar uma música depois de contar uma história e que sem a canção será difícil pegar no sono. Eu amo cantar. Especialmente para alunos. Escolho uma música calma e canto. Ao final, ele já adormeceu.

Neste momento, um barulho mais alto. 6 tinha caído novamente. Fui ao seu encontro. Bateu a cabeça na queda. Fui chamar outro adulto, que o levou para por um gelo no galo.
Enquanto esperava seu retorno, comecei a falar com 8, que estava completamente desperto e preocupado com tudo: com as madeiras do beliche, com o amigo que caiu, com o barulho no quarto ao lado, com a quantidade café que ele tinha tomado, com a possibilidade do sonambulismo dele aflorar durante aquela noite. Com tudo. Mas não aceitava nenhuma das minhas sugestões para tentar acalmá-lo. Resolvi que cada um de nós dois ficaríamos em nossas camas até que conseguíssemos pegar no sono. Antes disso, vieram instalar grades nas camas de 6 e 7, para evitar novas quedas. Eles dormiram bem daí em diante
Eventualmente, eu e 8 dormimos. Ele primeiro, claro. Na manhã seguinte, todos estavam discutindo quem demorou mais para dormir, quem acordou primeiro, quem havia dormido menos. Para encerrar a discussão, expliquei que a última a dormir, a primeira a acordar, a que levantou quatro vezes em seis horas, para conferir se estavam todos bem, a que menos dormiu com certeza tinha sido eu!

Resumo da noite: 
1 livro; uma música; 7 dormidos; 3 quedas; 1 galo; 2 grades novas; 1 sem sono e 1 professora exausta.
Acabei dormindo da meia noite às 6h mais ou menos, levantando 4 vezes para cobrir melhor meus meninos. Noite agitada!